Acreditar sempre!

Hoje, mais do que nunca, apetece-me cantar: Vitória!

Foi precisamente neste dia, mas há 5 anos, que fui operada a um cancro da mama. Já aqui partilhei isso convosco.

E, se há motivo para me alegrar, para partilhar convosco, este é um deles. Um enorme motivo.

Passar pela experiência da impotência, da incerteza, da angústia, do medo, dá-nos a capacidade de nos percebermos pequenos e ao mesmo tempo fortes. Pequenos porque percebemos a fragilidade da vida humana e de como tudo pode terminar num instante, quando ainda tantos sonhos e projectos estão na nossa cabeça a burilar. Fortes, porque, como diz S. Paulo: "Quando me sinto fraco é que sou forte" porque, tomando consciência da minha pequenez, sou capaz de entender que a vida não depende de mim, que apenas me foi confiada por um instante, o tempo necessário para fazer aquilo que me é pedido.

Esta experiência da dor, de incerteza, da impotência, não é de modo algum um obstáculo a que sejamos felizes, pelo contrário, é um caminho para a nossa felicidade. Não que seja bom passar por ela, mas pelas ocasiões que nos proporciona de aprendizagem, de amadurecimento, de sabedoria e pela força que uma experiência destas nos dá.

Viver esta experiência permitiu-me também perceber melhor o que é essencial e deixar o que é supérfulo, porque quando não se tem saúde parece que não se tem mais nada, tudo é efémero, mas é quando a vida está, muitas vezes, a nascer, porque é precisamente a partir daquele momento que renascemos, que ganhamos uma vida nova, tudo muda.

Aprendemos a humildade, a paciência, a ternura, o Amor, porque descemos ao mais pequenino que somos e temos, descemos ao nosso nada, e isso faz crescer em nós uma capacidade enorme de luta e de força que não sabemos de onde vem, nem para onde vai. Estamos apenas naquele momento e naquelas circunstâncias.

Passamos também, e muito, pela Esperança. Acreditar que é possível tornar este momento menos doloroso, vencer em vez de ser vencido, tendo a consciência plena de que se está numa luta desigual. Mas é possível, por isso vamos à luta.

E percebemos também que não estamos sós. Para além da nossa família e amigos, apoios fundamentais nesta experiência, há alguém, Jesus, que também passou pela experiência da dor, do sofrimento, do abandono, mas que foi até ao fim e venceu. Foi fiel ao projecto de Deus sobre Ele e não foi derrotado, pelo contrário, venceu. E esta certeza de que não estamos sós, de que "Eu estarei convosco até ao fim dos tempos", que nos dá a força para permanecer diante dos desafios desta experiência com a serenidade necessária para vencer o que for preciso, nem que seja a morte. Porque a força do Amor tudo pode nAquele que pode tudo, mas não pode contudo, porque quer precisar de nós para o seu projecto de salvação da Humanidade.

Foi esta a força que me fez entregar a esta experiência com toda a minha alma, com tudo aquilo que sou e tenho, e colocar-me também nas mãos dos médicos e confiar, nunca deixando de acreditar que estão também do nosso lado e que tudo fazem para que a nossa vida não se perca.

Quando partilho esta experiência lembro sempre aqueles e aquelas que lutaram e acreditaram que era possível vencer, mas para quem a doença foi mais forte do que elas e as fez partir cedo demais. A sua força e a sua coragem ficam na minha memória como testemunho de vida a partilhar. E foram alguns os que vi desaparecer durante este tempo. Para eles a minha profunda homenagem.

Àqueles que vivem esta experiência uma palavra: nunca desistam de viver, nunca desistam de lutar, mesmo que não seja possível vencer. Vale sempre a pena acreditar, vale sempre a pena ter Esperança que, como costumamos dizer: "é sempre a última a morrer".



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