Em memória da minha Mãe


O CERCADO

De que cor era o meu cinto de missangas, mãe
feito pelas tuas mãos
e fios do teu cabelo
cortado na lua cheia
guardado do cacimbo
no cesto trançado das coisas da avó


Onde está a panela do provérbio, mãe

a das três pernas

e asa partida

que me deste antes das chuvas grandes

no dia do noivado


De que cor era a minha voz, mãe

quando anunciava a manhã junto à cascata

e descia devagarinho pelos dias


Onde está o tempo prometido p'ra viver, mãe

se tudo se guarda e recolhe no tempo da espera

p'ra lá do cercado

PAULA TAVARES, in DIZES-ME COISAS AMARGAS COMO OS FRUTOS (Ed. Caminho, 2011) 

Aqui fica a minha homenagem à memória da minha mãe, no dia em que faz 2 anos que entrou na Casa do Pai. Sei que está bem e isso é o mais importante. Continua a brilhar em mim a luz da sua estrela, que todos os dias ilumina o céu.
Como era tão bonita!

 

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