"Mãe, quando saires da cadeia não vais ter a mesma vida"

Foi com esta frase que o filho mais velho da "Isabel" (nome fictício) a interpelou um dia em relação à vida que levava (fruto de uma vida dura, com uma família destruturada, que a levou a ser colocada muito nova numa instituição para meninas abandonadas a fim de ser "educada para a vida") que a "Isabel", na cadeia a cumprir a pena a que foi condenada, fez desta contrariedade uma oportunidade para ter uma vida mais digna e tem procurado estudar, instruir-se para que, quando sair, possa ter uma vida diferente da que teve até agora, e assim responder ao apelo do filho.
A "Isabel" esteve nessa instituição algum tempo e, ainda antes de completar os seus 18 anos, decidiu partir em busca de uma vida melhor, da felicidade a que tem direito mas que a vida ainda não lhe tinha deixado experimentar. Contudo, os caminhos escolhidos e percorridos foram também eles desalinhados, porque a "Isabel" na sua ingenuidade e ilusão próprios da sua jovialidade e desejo de ter a sua vida própria, cheia de "facilidades", como ela própria o refere, viu-se metida por caminhos que não escolheu, mas foram os que a permitiram sobreviver.
Depois de um casamento falhado e de ter um filho ao seu cuidado, casou novamente e teve mais dois filhos. Só que a vida pregou-lhe outra partida e foi vítima de violência doméstica de tal forma grave que, desesperada, outra solução não encontrou senão a de terminar com a vida do marido.
A "Isabel" levou consigo os seus dois filhos pequenos e é tão interessante observar o seu amor por eles. Dentro do que lhe é permitido acompanha-os sempre, busca o melhor para eles, para que aquele lugar não seja para eles um lugar "mau", de onde a mãe não pode sair, mas um lugar onde podem fazer amigos porque vão à escola, conhecem outras pessoas e constroem os seus próprios mundos e sonhos.
 
Conheci-a pessoalmente no sábado, a sua "1ª saída precária", e aquela pessoa "franzina" fez-me reflectir sobre o sentido que damos à nossa liberdade, aos valores que tanto apregoamos aos outros, mas que tantas vezes não são o espelho da nossa vida. E nestes 4 dias de "liberdade" levou consigo os seus filhos, foi ao encontro do filho mais velho e estava feliz.
 
Faltam poucos meses para a "Isabel" sair da cadeia para uma nova vida.E a reflexão que eu faço é esta: o que fazemos nós para nos desprendermos de tantas coisas que nos levam a outros géneros de prisões e que nos impedem de mudar o nosso coração, de ter um outro olhar sobre a vida, sobre as pessoas que se cruzam no nosso caminho?
O que é para mim a liberdade, a justiça, o respeito pelo outro, pela sua dignidade, pela sua vida? O importante é ser capaz de aprender a não julgar, porque ninguém sabe o que vai dentro do outro e, se Deus não julga ninguém, antes acolhe, abraça e faz festa pelo regresso do filho de novo a casa, como posso eu pensar que posso "apontar" o dedo ao outro?
Libertemo-nos de juízos e preconceitos antecipados e renovemos o nosso coração. Dar-nos-emos conta como a nossa vida se transforma e nos sentimos mais úteis e felizes, porque também fizemos os outros felizes.

 

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