"Pensamos sempre que a dor só acontece aos outros, mas quando chega a nós é difícil"

Este foi o desabado que hoje ouvi da "Joana" (nome fictício), cujo pai, no alto dos seus oitenta e poucos anos se encontra gravemente doente.

Um cancro que se espalhou rapidamente tem feito com que ande pelos hospitais em consultas, exames, operação, etc, que todos sabem ser esforços infrutíferos dada a gravidade da situação, mas que ele insiste em realizar, pois não desiste de lutar pela vida.

A "Joana" acompanhou-o nestas duas últimas semanas e hoje, regressada ao trabalho, quando lhe perguntei como estava o pai ela respondeu: "Vai andando, já lhe disse que agora tem que viver um dia de cada vez", acrescentado de seguida: "Pensamos sempre que estas coisas só acontecem aos outros, mas quando chega a nós é muito difícil. Estes dias em que acompanhei o meu pai ao hospital vi coisas que me incomodaram muito".

A dor e o sofrimento fazem parte da nossa vida, mas temos sempre muita dificuldade em encará-los assim pelo medo que isso nos pode trazer, o medo da morte, por exemplo, e pelo que isso implica na nossa vida, pois não estamos, nem fomos, preparados para lidar com eles de uma forma natural, como algo que nos pode trazer uma nova visão e sentido da vida.

E quando estes acontecimentos nos surgem sem contarmos, em cada um de nós, em algum familiar próximo como é o caso da "Joana" ou em amigos, sentimo-nos "perdidos" e muitas vezes interrogamo-nos: "Porquê eu, o meu pai ou o meu amigo? Que mal fizemos? Deus está zangado connosco e agora "mandou" esta doença".

Está profundamente enganado quem assim pensa. Deus não quer para o Homem outra coisa senão a sua felicidade. Ele não é vingativo, porque se assim fosse não morreria na cruz. Deus está sempre presente na nossa vida, mas nós andamos muito distraídos com muitos apelos feitos pela sociedade que nem damos por Ele e pela sua presença em nós.

E é precisamente nestes momentos que Ele ainda está mais próximo de nós. Escuta o nosso gemido de dor e afaga-nos com os seus gestos de Amor realizados através dos médicos, enfermeiros, da família (nosso maior suporte) e todos aqueles que caminham connosco.

A dor e o sofrimento não nos são "dados" para sofrermos por sofrer, porque é bom sofrer para "ganharmos" o céu, como se Deus fizesse da nossa dor um "negócio" para nos "ganhar" para Ele. São-nos dados sim para crescermos interiormente,  como uma oportunidade para mudarmos a nossa forma de estar e encarar a vida, de estarmos mais atentos aos que mais sofrem, aos que estão sozinhos e que até ali nunca tínhamos dado "conta" de que também existiam.

Também eu já fui operada a um cancro. Felizmente tudo está a correr bem. E esse momento foi de uma dimensão enorme para mim por tudo o que vivi, experimentei e vi junto das pessoas que naquela altura também percorriam os mesmos caminhos. Foi uma excelente ocasião para avançar sem medo, de acreditar que era possível vencer, de confiar nos que me tratavam e sentir que não estava só, que Deus estava comigo e se manifestava de tantas maneiras através da presença da família, dos amigos, sei lá, tantas coisas.

A Esperança, a confiança, a alegria devem ser sempre nossas companheiras de caminho e, enquanto o vamos percorrendo se olharmos para trás veremos quem está ao nosso lado, quem pegou em nós ao colo e nos aconchega nos seus braços. Ficamos maravilhados, seduzidos!

A todos/as que passam por experiências duras nas suas vidas fica o meu abraço de solidariedade e o desejo de que todos/as saibamos abrir o nosso coração para que tudo siga ao seu ritmo e não ao nosso, pois só assim a natureza pode realizar-se plenamente.

Um abraço de amizade

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