A minha alma tem sede de ti, Paizinho
É Paizinho,
tem sido assim nos últimos meses. Fome e sede de Ti. O meu coração arde como
uma sarça-ardente. A minha alma inquieta e em busca de Ti. Onde Te encontrar?
Busco-te longe, fora de mim, mas afinal Tu estás dentro do meu coração. Tão
pertinho que nem Te vejo por Te buscar onde sei que não estás. Descubro que,
afinal, és Tu em mim que “ardes”, queres que Te abra a porta para poderes
entrar e falar comigo, escutar-me.
Que
privilégio o meu ter-Te como companheiro de viagem! Uma viagem que vem ainda antes
de ter nascido e que continuará para sempre, porque Tu és carne e sangue da
minha vida, ou seja, deste-te por mim, por todos os Homens. Não quiseste que
ninguém fosse excluído. Foi com esse abraço que Tu, Paizinho, nos resgataste,
nos ensinaste o que é o AMOR.
No caminho que queres percorrer comigo Tu convidas-me ao
silêncio e à mudança de coração. No meio do ruído é impossível escutar-Te. Como
é enorme a Tua sabedoria, Paizinho!
“Atravessar
a própria solidão” é o convite em
jeito de desafio que Tu me lanças. Tal como o fizeste com os teus discípulos
quando lhes disseste: “Lançai as redes ao mar”. Descobrir-me peregrina
na terra, para poder ir ao mais
profundo de mim mesma, requer “fazermo-nos ao caminho, adentrarmo-nos no desconhecido,
sempre com humildade. Face ao insondável
que nos habita, não há outra forma. (…) A solidão, ainda que tenha algo de vertiginoso, abre-nos as portas da nossa própria casa;
convida-nos a entrar e a viajar até ao
mais profundo do nosso coração. Creio que só nos lançaremos a esta viagem,
quando a sede se torna insuportável.
Resistimos até onde podemos!” (…)
Quando nos decidimos a ir por dentro de nós é um sinal de que Deus nos precedeu
com a sua graça e que, desde sempre, nos espera na nossa própria casa. Deus
nunca se cansa de nos chamar à vida, a uma vida cheia, plena, e, por isso,
espera-nos incansavelmente.” [1]
E a
cada instante fazes-me perceber a Tua presença, o desassossego que provocas na
minha alma para ir cada vez mais ao fundo de mim mesma sem medos nem ambições.
Ir simplesmente, com humildade. E perguntas-me:
“Acolherás o dia que chega como o «hoje» de
Deus? Saberás descobrir despertares poéticos em cada estação, nos dias plenos
de luz como nas frias noites de Invernos? Saberás alegrar a tua humilde morada com sinais que preencham o coração?”
[2]
“Sem
outras intenções, sem arrependimentos, sem nostalgia, acolhe os acontecimentos, mesmo os mais ínfimos, com infinita
surpresa. Vai, caminha, um pé à frente do outro, avança da dúvida em direcção à fé e não te
preocupes com as impossibilidades. Acende um fogo, utilizando mesmo os
espinhos que te fazem mal.” [3]
Paizinho,
é com esta certeza da Tua presença em
mim, e vontade de fazeres caminho comigo que a minha alma se tranquiliza e
serena e aceita com uma profunda
liberdade e desejo de mudança a tua resposta à minha pergunta:
“Mestre, onde moras?” a que Tu respondes: “Vem
e segue-me”.
Já
não é possível olhar para trás, olhar o arado e desistir. Agora é o momento de
abandonar as dúvidas e resistências, para me tornar dom no meio do
desconhecido.
Obrigada,
Paizinho, por seres dom de vida feita Amor para mim, para todos os Homens.
Obrigada por me acolheres e escolheres, mesmo com as minhas fragilidades Sou
como um vaso de barro nas Tuas mãos e sei que me seguras cuidadosamente, com uma
ternura e um Amor Infinito.
“Um sim a Deus para a vida inteira é fogo. Seis
séculos antes da vinda de Cristo, o profeta Jeremias já tinha compreendido isso
mesmo. Desanimado, dizia para consigo: «Não pensarei nele mais! Não falarei
mais em seu nome!» Mas veio o dia em que teve o ensejo de escrever: «No meu coração, a sua palavra era um
fogo devorador, encerrado nos meus ossos. Esforçava-me por contê-lo, mas não
podia.» (6)
6. Jeremias 20, 9 [4]
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